A (IN)SUSTENTÁVEL LEVEZA DE SER

Nesta semana, um vídeo em que desço as escadas do prédio onde trabalho, ao lado de colegas, parece ter incomodado pelo fato de serem gestos de leveza, com mensagem de paz no entrelaçar das mãos, depois de uma manhã pesada de trabalho. Uma prática como tantas outras que tenho em minhas redes, com a liberdade que tenho de ser eu mesma. Mulher, vereadora, professora, uma pessoa que ama o que faz, voluntária ou profissionalmente..
Aos 51 anos, não há chance, com tendências a só melhorar com a idade, de me tornar um personagem, independente do espaço que ocupo. O trabalho me produz brilhos nos olhos. Meu dia começa cedo e termina tarde, são no mínimo 12 horas diárias, que cumpro com alegria e disposição.
Na quinta-feira, saía da Câmara depois de uma sessão pesada, que terminou tarde e onde tivemos um resultado importante a favor da vida e da educação. O clima era de satisfação e gravamos o vídeo que foi editado e postado em minhas redes. Posto conteúdo diariamente, alguns mais leves, outros mais sérios. Esse, em especial, mobilizou uma minoria, simplesmente porque nos mostra como pessoas comuns, de carne e osso, que trabalham duro e também se descontraem. Retirei o vídeo pela presença de colegas e não por arrependimento, como insinuado. Arrepender de quê mesmo? Não há culpa, nem medo, sentimentos paralisantes. Preciso de ãnima, o que anima e movimenta, de alma e de sua unicidade para seguir com o propósito de transformar a vida das mulheres para melhorar todas as vidas.
Há escolhas por quem é sujeito da própria história, ciente de que todas elas são angustiantes por implicarem em ganhos e perdas. Durmo tranquila por ter me tornado quem sou e isso não tem preço.
A criminalização da política, as generalizações sem fundamentação no mundo do espetáculo, a pandemia e impactos, as fakes que matam, a desinformação, a escassez de políticas públicas, a necropolítica, o desemprego, a violência doméstica, a fome, escassez de programas de moradias deveriam nos incomodar mais que um descer de escadas.
A maneira como caminhamos, nos comportamos e agimos, enquanto mulheres e homens livres, é uma decisão nossa. Tenho liberdade de me expressar, de mover meu corpo, de ser eu mesma. Eu trabalho com alegria, prazer, brilho nos olhos, leveza. Sou autêntica, chamo as pessoas de maravilhosos e maravilhosas. Nomeio partes do “corpo-tabu” para tirar fotos com sorrisos largos e boas energias. Respeito opiniões divergentes. Problematizo. Tenho uma trajetória que não começou hoje e não deixarei de ser quem sou para atender expectativas de padronizações.
Presencio atitudes em prédios públicos que seriam dignas de críticas. Palavrões, gritos e ofensas em plenário. Gente sem máscara. Agressões à imprensa e à liberdade de expressão. Violação de direitos. O uso da lei para garantir privilégios. Mas o grave mesmo é um vídeo em que desço as escadas de forma descontraída, com look brechó sustentável, depois de um período de trabalho árduo. Como diria Drummond diante a porta da verdade: “cada qual escolhe, conforme seu capricho, ilusão e miopia”. E arremata, Caetano, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
Atuo no legislativo para modificar o jeito de se fazer política e não para ser domesticada por ela.
Espero ser respeitada pela responsa que aqui é enorme. Críticas, recebo-as com o mesmo bom humor. O que saiu nas mídias? Não faço ideia e não tenho tempo pra ver. Trabalho, temos bastante pra divulgar. Bora pautar e publicar sobre ele?