Por Cláudia Guerra
A cada nova fase da vida, outra face para as mulheres. Vivemos mais, e pelo menos um terço dessa existência pode ser vivido no climatério, o período de transição entre a fase reprodutiva e a não reprodutiva das mulheres. Sem generalizar, compartilho a experiência de um corpo em transformação, que expurga pelos poros e grita a partir do útero.
O que não me contaram sobre o climatério e eu adoraria ter sabido antes de vivenciar essa mudança: acredito que um coletivo de mulheres poderia ajudar muitas a passarem por esse momento com uma perspectiva de autoconhecimento e trocas de desafios e potências.
Durante o puerpério, a fase é intensa. O bebê cresce e caminha para autonomia, mas a mistura de amor, cansaço e desânimo é inevitável. No entanto, a “servidão voluntária” da maternidade não idealizada diminui aos poucos. E, mesmo com a divisão de tarefas e cuidados, como no meu caso, a exaustão é real.
Já no climatério, que varia muito de mulher para mulher, vamos envelhecendo e ajustando nossa autonomia. A cabeça e o corpo parecem não caminhar mais juntos, e há uma estranha disritmia. Começo a pensar se, na verdade, não era só uma impressão sublimada de que eles um dia estiveram em perfeita sincronia.
Para as que estão entrando nos “entas”, aqui vai um conselho: evitem casas com escadas, pisos escorregadios e móveis com quinas afiadas. Travesseiros de corpo para dormir de lado e cadeiras que apoiam bem a coluna e os pés no chão também são um grande alívio. Se possível, instale suportes no box do banheiro e evite tapetes felpudos e cortinas pesadas. Ventilador e ar-condicionado na cozinha e no quarto podem ser essenciais para lidar com os famosos “fogachos” — ondas de calor que afetam 75% das mulheres no climatério.
Medicamentos fitoterápicos, florais, óleos, mais naturais, com orientação de nutricionista, podem auxiliar o intestino que funcionava e de repente ficou preso, bem como o quadro geral. Para mim, não foram suficientes.
Sim, o sono também é afetado. Muitas de nós começamos a usar protetores de ouvido para silenciar o ronco do “kit marido” e lidar com espasmos noturnos, acompanhados de susto. O calor, aliado à insônia, pode transformar a cama em uma luta constante. Um colchão maior pode ajudar o casal!
Além dos sintomas clássicos, o climatério traz alergias e artrites. As mulheres são as mais acometidas por essas condições após os 40 anos. Também descobrimos que nossas mãos não são mais tão firmes para colocar linhas nas agulhas. Então, invista em óculos leves e multifocais para facilitar a vida, mas prepare-se: o cérebro pode demorar cerca de trinta dias para se acostumar com eles.
Outro detalhe: cabelos. Eles vão cair. E essa perda de volume vai te fazer repensar o uso de química neles. E, por mais que pareça bobagem, o uso de protetor solar e hidratante corporal se torna indispensável para prevenir o ressecamento, as manchas e a coceira. A pele resseca de dentro para fora, e a prevenção é mais barata do que a cura. Mocinha, agora você pode achar bobagem, mas besunte hidratante no corpo todinho. Passe na curva da região sacral, entre os glúteos também. Aí pode até descascar pela secura, nessa fase.
Para o cuidado íntimo, comece a usar cremes específicos para hidratação vaginal. A secura vaginal afeta cerca de 50% das mulheres na pós-menopausa, e o uso de lubrificantes à base de água é fundamental para a sexualidade. Exercícios como o pompoarismo fortalecem a musculatura pélvica, proporcionando mais conforto nas relações sexuais. Além disso, para aquelas que preferem métodos mais naturais, o uso de maca peruana tem sido associado ao fortalecimento muscular.
Sejamos “flanelinha” e contemos ao parceiro como curtimos nossa viagem corporal. Não somos feitas no atacado. Algumas de nós recorremos ao orgasmo faz de conta. Mas, quem nunca? Mas, se tiver intimidade com o parceiro, diga que não rolou naquele dia e tudo bem. Se não tiver esse nível de cumplicidade, talvez fingir seja menos trabalhoso que discutir a relação toda vez. Cada uma de nós com seu tempo interno, valores e o estilo de relacionamento, caso estejamos em um, e fazendo escolhas.
Passar delineador abaixo dos olhos pode passar a borrar com a flacidez da pele pela perda de colágeno e com as rugas adquiridas, marcas inevitáveis do tempo vivido. Alguns cílios irão crescer para dentro do olho e um espelho que aumente, em dez vezes, para enxergá-los e retirar, vai auxiliar.
Se você pensa em fazer depilação a laser, faça isso antes dos pêlos ficarem brancos, pois o laser não remove os fios grisalhos. E, caso tenha condições e opte por procedimentos estéticos como botox, procure profissionais que preservem suas expressões naturais, apenas suavizando sinais de cansaço. Afinal, o objetivo é nos sentirmos bem com quem somos.
Medo e culpa paralisam. E a libertação dessa carga é uma das conquistas dessa fase. Respirar profundamente, com o diafragma, é uma técnica que nos ajuda a lidar com a ansiedade, taquicardia e até ataques de pânico, comuns em mulheres no climatério. Respire e não pire!
A boa notícia é que a idade traz consigo a incrível potência de nos arriscarmos mais, de viver com mais leveza e de nos libertarmos das opiniões alheias. E para algumas, a reposição hormonal, quando indicada, pode melhorar muito a qualidade de vida, reduzindo sintomas como ondas de calor, insônia, falta de libido e ajudando na saúde óssea.
No fim das contas, a melhor parte de tudo isso é a liberdade que vem com o envelhecimento. Saber quem sou e os propósitos que me movem me dá uma sensação de plenitude e energia que eu nunca imaginei.
Viva o climatério, com todas as suas nuances! 🥄
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*Cláudia Guerra, 55 anos, no climatério/menopausa, mãe de dois jovens, casada há 25 anos. Ativista voluntária e fundadora da SOS Mulheres, Conselho Direitos das Mulheres e do Núcleo Estudos de Gênero, desde anos 90. Profa. Dra. em História sobre violência conjugal. Vereadora (2021-2024) que implantou a Procuradoria da Mulher, sendo sua primeira presidente, na Câmara de Uberlândia.